Comentários Críticos "Eunice, Clarice, Thereza" (1979): a película como preservadora da memória
- César Plaggert
- 24 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de mar.
Uma obra de construção simples, mas ousada, sobre os desaparecimentos e mortes durante a ditadura civil-militar brasileira, que, para falar dos que se foram, se apoia naquelas que ficaram como suas personagens. Eunice, Clarice, Thereza é um curta-metragem documental dirigido por Joatan Vilela Berbel em 1979, filme que será objeto destes comentários críticos.

Berbel se posiciona como autor ao fazer a escolha afrontosa de criticar a ditadura, mesmo sob a ameaça de censura. Já a imagem cinematográfica é pouco manipulada pelo realizador, que respeita o espaço dessas mulheres para contarem suas histórias, sem interrupções nos relatos, com iluminação direta e até com a presença do microfone nos enquadramentos. Isso se evidencia já na abertura do filme, que inicia com uma captação do relato de Eunice por meio de uma teleobjetiva, aproximando-se dela pelo zoom, e não pela posição da câmera. É interessante notar a escolha dos enquadramentos, que priorizam os relatos, por meio de close-ups e primeirissimos planos, captando no olhar das entrevistadas a saudade e a tristeza pela morte de seus maridos.

Os relatos das personagens se diferenciam por suas condições sociais e perspectivas políticas. Eunice Paiva mantém um discurso mais direto sobre os acontecimentos, sem expor muito seus sentimentos ao realizador. Clarice Herzog, por sua vez, utiliza o filme para levantar questionamentos sobre o regime e expressar sua revolta contra a hipocrisia e a violência dos militares. Por último, Thereza Fiel, alheia aos valores políticos do marido, segue um relato mais sentimental sobre o desaparecido, indignando-se com as mentiras contadas sobre alguém que ela conhecia tão bem.
O cinema, aqui, é utilizado como um meio de preservação da memória daqueles que sequer tiveram direito a seus corpos. O realizador registra um filme um recorte afetivo de esposas, eternizando suas imagens na história.
Parabéns à equipe do Cinelimite por essa delicada restauração. O trabalho de vocês é fundamental para preservar a história do nosso cinema e manter viva a memória do passado violento do nosso país.
O filme está disponível para reprodução em: https://www.cinelimite.com/programs-2/euniceclaricethereza
Texto: César F. P. Falkenburg
Comentarios