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Comentários Críticos "Eunice, Clarice, Thereza" (1979): a película como preservadora da memória

Atualizado: 24 de mar.

Uma obra de construção simples, mas ousada, sobre os desaparecimentos e mortes durante a ditadura civil-militar brasileira, que, para falar dos que se foram, se apoia naquelas que ficaram como suas personagens. Eunice, Clarice, Thereza é um curta-metragem documental dirigido por Joatan Vilela Berbel em 1979, filme que será objeto destes comentários críticos.

Poster do filme Eunice, Clarice, Thereza (1979)
Poster do filme Eunice, Clarice, Thereza (1979)

Berbel se posiciona como autor ao fazer a escolha afrontosa de criticar a ditadura, mesmo sob a ameaça de censura. Já a imagem cinematográfica é pouco manipulada pelo realizador, que respeita o espaço dessas mulheres para contarem suas histórias, sem interrupções nos relatos, com iluminação direta e até com a presença do microfone nos enquadramentos. Isso se evidencia já na abertura do filme, que inicia com uma captação do relato de Eunice por meio de uma teleobjetiva, aproximando-se dela pelo zoom, e não pela posição da câmera. É interessante notar a escolha dos enquadramentos, que priorizam os relatos, por meio de close-ups e primeirissimos planos, captando no olhar das entrevistadas a saudade e a tristeza pela morte de seus maridos.


Frame do filme Eunice, Clarice, Thereza (1979)
Frame do filme Eunice, Clarice, Thereza (1979)

Os relatos das personagens se diferenciam por suas condições sociais e perspectivas políticas. Eunice Paiva mantém um discurso mais direto sobre os acontecimentos, sem expor muito seus sentimentos ao realizador. Clarice Herzog, por sua vez, utiliza o filme para levantar questionamentos sobre o regime e expressar sua revolta contra a hipocrisia e a violência dos militares. Por último, Thereza Fiel, alheia aos valores políticos do marido, segue um relato mais sentimental sobre o desaparecido, indignando-se com as mentiras contadas sobre alguém que ela conhecia tão bem.

O cinema, aqui, é utilizado como um meio de preservação da memória daqueles que sequer tiveram direito a seus corpos. O realizador registra um filme um recorte afetivo de esposas, eternizando suas imagens na história.

Parabéns à equipe do Cinelimite por essa delicada restauração. O trabalho de vocês é fundamental para preservar a história do nosso cinema e manter viva a memória do passado violento do nosso país.


O filme está disponível para reprodução em: https://www.cinelimite.com/programs-2/euniceclaricethereza


Texto: César F. P. Falkenburg

 
 
 

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