A DUAL CONSTRUÇÃO DE ESTRANHO ENCONTRO
- César Plaggert
- 30 de nov. de 2023
- 2 min de leitura

Estranho Encontro é o segundo longa do diretor Walter Hugo Khouri, lançado em 1958. Na obra seguimos Marcos, que encontra Júlia perdida em uma estrada e decide escondê-la de seu marido abusivo Hugo, em sua residência. No período da produção do filme, o cinema brasileiro tentava desenvolver uma indústria e linguagem cinematográfica que atraísse a população às salas de exibição, Khouri ao invés de produzir chanchadas, comuns do período, usa suas influências estadunidenses e europeias para constituir a estética e história da obra, produzindo um filme de suspense ambientado na alta burguesia paulista.
As influências externas são gritantes no longa, a fotografia é inspirada no visual preto e branco de Ingmar Bergman, e no roteiro os longas de suspense do Hitchcock. Mesmo que essas inspirações agreguem para a trama, torna o filme vazio de uma identidade própria, em que não conseguimos identificar com clareza o autor na obra.


Além da falta de identidade, há dois pontos que são incômodos ao decorrer do longa, que são as atuações e o desenvolvimento do suspense. Sobre as interpretações, a mais incômoda é a de Mário Sérgio interpretando Marcos, visto que o ator não consegue trazer às telas o clima de tensão que o filme exige, tendo pouca capacidade de interpretação dramática do roteiro, o que gera ao espectador uma atuação pouco convincente. Já acerca do desenvolvimento do suspense, Khouri consegue desenvolver uma tensão até a metade do filme, pois nesse momento, o público consegue identificar o que está acontecendo na história, tornando o suspense arrastado e incômodo.
Mesmo com a presença de pontos negativos, a obra possui em seu interior características muito positivas, sendo a fotografia a que mais chama a atenção. Khouri constrói planos que além de terem grande beleza estética, são úteis para gerar tensão e agregar na narrativa. Um bom exemplo é quando Júlia está no armazém da casa e fica presa em uma rede, ao decorrer da cena, a câmera se aproxima cada vez mais da personagem, demonstrando que ela está presa em seus pensamentos, como um inseto preso em uma teia de aranha.

Estranho Encontro ao observá-lo na contemporaneidade, se torna uma excelente forma de estudo para entender como o cinema brasileiro se construiu e suas diferentes abordagens técnicas e narrativas, e uma forma de compreender como era a alta burguesia paulista nos anos 50, compreendendo seu estilo de vida trazido às telas pela direção de arte e suas relações interpessoais mostrada pelos diálogos e interpretações.
Conclui-se que, Khouri já demonstrava desde o começo da sua carreira, domínio técnico na estética cinematográfica, mas como ainda não tinha se estruturado por completo, havia dificuldade em desenvolver uma identidade própria em suas produções, além do obstáculo em construir um roteiro que tivesse um bom ritmo dos acontecimentos da trama. Estranho Encontro é uma obra dual, tendo suas características negativas e positivas, que dividem os espectadores em suas opiniões do filme até atualmente.
Texto: César F.P. Falkenburg
Revisão: Alice Faria
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