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Comentários Críticos "A Batalha da Rua Maria Antônia": a tecnocracia que ultrapassa o filme

Vera Egito se preocupa tanto com a técnica de filmar A Batalha da Rua Maria Antônia que acaba enfraquecendo sua narrativa, reduzida a uma mera visão elitista sobre uma juventude marginalizada sob ideais marxistas. A trama se limita a uma representação maniqueísta do conflito, que em alguns momentos tenta explorar personagens multifacetados, mas não os desenvolve o suficiente.

Poster do filme A Batalha da Rua Maria Antônia
Poster do filme A Batalha da Rua Maria Antônia

O que mais me incomoda é o "vômito" de iconografias da esquerda brasileira — representações generalistas como a ideia de que a direita usa roupa social e a esquerda, camisas despojadas; pôsteres marxistas; cartazes em todos os cômodos; Chico Buarque como trilha musical; cigarros e cachaça. Não que esses elementos não façam parte da estética da esquerda, mas se limitar a eles para contar a história de estudantes que deram suas vidas por seus ideais, enfrentando fisicamente a ditadura militar, acaba tendo o efeito inverso do desejado pela diretora: o afastamento do público desses personagens.

Inclusive, a atuação engessada de certas personagens reforça essa generalização da trama. O que escutamos daquelas figuras não transmite, em nenhum momento, uma sensação de verdade; o texto soa forçado e simples demais para um grupo revolucionário. É curioso que um filme que busca o realismo cênico caia numa mise-en-scène plastificada.

Frame do filme A Batalha da Rua Maria Antônia
Frame do filme A Batalha da Rua Maria Antônia

Mesmo com minhas divergências, admiro a escolha de filmar o longa em plano-sequência. Já que a câmera nunca realmente para, sentimos a velocidade e a energia de um grupo revolucionário, como se estivéssemos acompanhando de perto aqueles personagens, os seguindo naquele prédio tomado pela sede de liberdade.

Outro fator estético atrativo é a fotografia em 16mm, em preto e branco, que — pela textura, pelo formato e pelo alto contraste — transmite a sensação claustrofóbica de um ambiente prestes a explodir, de cômodos mal iluminados que a qualquer momento podem ser incendiados ou apedrejados.

Mesmo acreditando que Vera Egito realiza seu filme em uma zona de conforto, receosa de explorar simbolismos fora do que já foi apresentado em outros longas com o mesmo recorte, defendo a existência de filmes como A Batalha da Rua Maria Antônia. É uma obra que escolhe sair da narrativa centrada em personagens da classe burguesa que sofreram com a ditadura, para contar a história de pessoas desconhecidas, sem biografias na Wikipédia, apagadas pelo regime fascista, mas agora ressuscitadas pelo cinema.

O cinema é resistência e memória — desejo a presença de mais obras que entendam o poder da nossa linguagem.


Texto: César F. P. Falkenburg

 
 
 

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