Comentários Críticos | 'O Brutalista': o capitalismo é duro igual concreto
- César Plaggert
- 16 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de jul.
O cinema épico hollywoodiano teve sua retomada com o surgimento da televisão. Diante da ameaça de perda de público possível nas salas de cinema, a indústria passou a investir em filmes épicos, longos e esteticamente sofisticados (especialmente com o surgimento do Cinemascope), para atrair novamente os espectadores às projeções. Curiosamente, O Brutalista utiliza o cinema épico como motor da obra, refletindo justamente o desespero de Hollywood em reconquistar seu público.
Com uma estrutura clássica de três atos, a longa conta a história de László Tóth, um arquiteto renomado que chega aos Estados Unidos como refugiado de guerra. Acompanhamos sua tentativa de se estabelecer no país e, posteriormente, sua decadência.

O primeiro ato segue uma estrutura formal, compatível com o roteiro tradicional de um épico: a trajetória de um personagem fragilizado até sua ascensão. Essa construção reforça a imagem do "sonho americano", que foi vendido aos judeus que buscavam escapar da perseguição nazista e da Segunda Guerra Mundial. A decupagem obedece às regras da composição visual, como a regra dos terços; a direção de arte mantém uma uniformização cromática nos cenários e figuras; e o texto adota um tom quase jornalístico, sem se comprometer com um ideal moral específico. A sequência de acontecimentos gera uma sensação de esperança: depois de tanto sofrer com o antissemitismo, o protagonista finalmente parece ter a chance de prosperar em uma terra estrangeira, assumindo um grande projeto moderno.

No segundo ato, o longa passa a criticar o sonho americano, exposto como os projetos arquitetônicos do protagonista: rígidos, imponentes e acinzentados. Esse contraste com o início do filme se torna interessante, pois evidencia a hipocrisia da classe burguesa, que, após um grande ato puritano, expõe seu lado mais desumano. Mesmo com a grandiosidade épica da filmagem do projeto de László, ele nunca será o verdadeiro protagonista de sua história. Apesar de todo o reconhecimento por sua trajetória, ele continua sendo apenas um imigrante nas terras norte-americanas. A opressão contra os judeus nunca esteve oculta no filme; apenas se torna aparente quando explicitado no texto.
O prólogo se mostra desnecessário, enfraquecendo a força crítica e poética dos dois atos anteriores. Aparentemente é uma tentativa do diretor de explicar a trajetória do protagonista de maneira didática, subestimando a capacidade analítica do público, quase como se fosse um verbete da Wikipédia.
O VistaVision revela uma ferramenta técnica que se distancia da tecnocracia, sendo essencial para captar as construções brutalistas imponentes com uma maior área de filme, em 70mm. Isso permite que a crítica visual se apresente com mais definição e nitidez, diferenciando-se de uma fotografia mais granulada em 35mm.

Mesmo que O Brutalista tenha uma mise-en-scène clássica, raramente se permitindo a experimentações estéticas e narrativas, sua estrutura funcional promove uma reflexão sobre o sonho americano. Diferente de Anora , o filme utiliza o cinema mais americanizado possível para desenvolver suas críticas. Como disse Helena Ignez durante a exibição da cópia restaurada de A Mulher de Todos (1969) na Cinemateca: “o clássico e o experimental são muito próximos quando têm qualidade.”.
Texto: César F. P. Falkenburg
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