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Comentários Críticos "Vitória": direção inconstante de uma história potente

Desde que assisti ao trailer de Vitória no cinema, criei uma relação agridoce com o que vi. De um lado, fiquei muito feliz ao ver Fernanda Montenegro novamente protagonizando um filme e interessado na aplicação da câmera como uma arma para dissolver uma facção. Do outro, senti angústia diante das interpretações artificiais, da iluminação plástica e da encenação no estilo Globo Filmes. Após assistir ao longa no cinema, minha relação com ele permaneceu a mesma: felizmente, não me decepcionou, mas também não me trouxe nada de novo.

A grande falha de Vitória é que Waddington aposta excessivamente no potencial da interpretação de Fernanda Montenegro para manter o público engajado e, com isso, entrega o restante de forma inconstante. Em que a narrativa segue um desenvolvimento morno, sem grandes avanços, sustentando-se em pequenas ações dramáticas para estimular uma conexão com o espectador.

Poster do filme Vitória
Poster do filme Vitória

O roteiro me remeteu, de forma negativa, ao Cinema da Retomada. Apesar da potente crítica à Polícia Militar, ao crime organizado e à violência armada no Rio de Janeiro, o filme cai em uma representação artificial das populações marginalizadas, engessada em mensagens simples, como: "O crime está em todas as instituições e lugares", "O crime destrói vidas inocentes", "As margens da sociedade são as que mais sofrem violência". Essa abordagem textual escancara o distanciamento do diretor, um homem branco da alta classe carioca, cuja obra se estrutura em uma pesquisa distante da periferia.

A falta de um cuidado maior na direção de atores, especialmente nos personagens secundários, intensifica a superficialidade da crítica social em Vitória. As interpretações soam artificiais e engessadas, carecendo da naturalidade essencial para a construção do drama.

A artificialidade também se estende à direção de arte e à fotografia, que constroem os planos de um filme vendido como "baseado em uma história real" de maneira plástica, visivelmente filmado em estúdio. Os objetos são dispostos de forma organizada no quadro, a luz das janelas é criada com um globo artificial, e os enquadramentos seguem rigidamente a regra dos terços. Como pode um drama sobre violência e crime nas periferias ser filmado com uma estética tão distante da realidade do local?

Frame do filme Vitória
Frame do filme Vitória

Talvez Waddington estivesse certo ao confiar na força da interpretação de Fernanda Montenegro para sustentar o filme, mas isso não foi suficiente para preencher as lacunas de sua direção, que frequentemente recai em uma linguagem genérica e pouco ousada. É curioso que a história de uma mulher que desafiou sozinha um sistema corrupto tenha sido contada de maneira tão receosa e clássica.


Texto de César F. P. Falkenburg

 
 
 

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