Comentários Críticos "Vitória": direção inconstante de uma história potente
- César Plaggert
- 16 de mar.
- 2 min de leitura
Desde que assisti ao trailer de Vitória no cinema, criei uma relação agridoce com o que vi. De um lado, fiquei muito feliz ao ver Fernanda Montenegro novamente protagonizando um filme e interessado na aplicação da câmera como uma arma para dissolver uma facção. Do outro, senti angústia diante das interpretações artificiais, da iluminação plástica e da encenação no estilo Globo Filmes. Após assistir ao longa no cinema, minha relação com ele permaneceu a mesma: felizmente, não me decepcionou, mas também não me trouxe nada de novo.
A grande falha de Vitória é que Waddington aposta excessivamente no potencial da interpretação de Fernanda Montenegro para manter o público engajado e, com isso, entrega o restante de forma inconstante. Em que a narrativa segue um desenvolvimento morno, sem grandes avanços, sustentando-se em pequenas ações dramáticas para estimular uma conexão com o espectador.

O roteiro me remeteu, de forma negativa, ao Cinema da Retomada. Apesar da potente crítica à Polícia Militar, ao crime organizado e à violência armada no Rio de Janeiro, o filme cai em uma representação artificial das populações marginalizadas, engessada em mensagens simples, como: "O crime está em todas as instituições e lugares", "O crime destrói vidas inocentes", "As margens da sociedade são as que mais sofrem violência". Essa abordagem textual escancara o distanciamento do diretor, um homem branco da alta classe carioca, cuja obra se estrutura em uma pesquisa distante da periferia.
A falta de um cuidado maior na direção de atores, especialmente nos personagens secundários, intensifica a superficialidade da crítica social em Vitória. As interpretações soam artificiais e engessadas, carecendo da naturalidade essencial para a construção do drama.
A artificialidade também se estende à direção de arte e à fotografia, que constroem os planos de um filme vendido como "baseado em uma história real" de maneira plástica, visivelmente filmado em estúdio. Os objetos são dispostos de forma organizada no quadro, a luz das janelas é criada com um globo artificial, e os enquadramentos seguem rigidamente a regra dos terços. Como pode um drama sobre violência e crime nas periferias ser filmado com uma estética tão distante da realidade do local?

Talvez Waddington estivesse certo ao confiar na força da interpretação de Fernanda Montenegro para sustentar o filme, mas isso não foi suficiente para preencher as lacunas de sua direção, que frequentemente recai em uma linguagem genérica e pouco ousada. É curioso que a história de uma mulher que desafiou sozinha um sistema corrupto tenha sido contada de maneira tão receosa e clássica.
Texto de César F. P. Falkenburg
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