Crítica "Stella: Vítima e Culpada" : a "poptização" da guerra
- César Plaggert
- há 26 minutos
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A guerra: a violência e o ódio saem da toca, quebram-se as normas sociais e tudo passa a valer pela sobrevivência. A moral deixa de ser a régua para a tomada de decisões; o impulso de se manter de pé leva pessoas a se transformarem de oprimidas a opressoras. É por meio dessa reflexão que surge Stella: Vítima e Culpada (Kilian Riedhof, 2025), baseada na história real de Stella Goldschlag, uma mulher judia que se tornou agente da Gestapo, colaborando com a prisão e morte de centenas de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Optar por uma protagonista que esteve dos dois lados da moeda é uma escolha de grande interesse do ponto de vista do estudo de personagem, pois a presença de camadas psicológicas na tomada de decisões ao longo da trama gera uma figura complexa e profunda, alguém fundamentalmente humano, tornando a experiência cinematográfica instigante. Essa complexidade de Stella vem principalmente da interpretação de Paula Beer, conhecida por sua parceria com Christian Petzold, que, por meio de sutis mudanças de olhares e expressões corporais, transita entre alguém odiável e amável na mesma medida — uma técnica artística refinada de uma atriz experiente.

Ainda que Stella: Vítima e Culpada seja naturalmente interessante por sua corajosa abordagem de uma história de guerra, Kilian Riedhof opta por uma linguagem cinematográfica distante do drama de sua protagonista. Com uma decupagem e montagem à la Maria Antonieta (Sofia Coppola, 2006) — com zoom-ins, dutch angles, câmera na mão e cortes ligeiros —, cria-se uma estética “poptizada”, energética e estimulante, algo que se encaixa perfeitamente na obra de Coppola pela proposta de ironização da monarquia. Mas, para uma trama sobre a Segunda Guerra e o Holocausto, torna-se visualmente conflitante e até problemático. É como se um diretor de videoclipes fosse chamado para realizar um drama: uma montagem que reduz a história a pequenos trailers e uma cinematografia que estiliza a violência — uma escolha infantilizada para uma narrativa que exigia um olhar maduro.

Além de dissonante do ponto de vista dramático, a estética de Riedhof é cansativa. Ele não se esforça para inovar nas ferramentas fotográficas ao longo do filme, mantendo-se na cartilha estabelecida logo no início da obra, o que faz parecer que assistimos a algo que gira em seu próprio eixo.
Stella: Vítima e Culpada é o tipo de projeto cujos acertos se sustentam apenas no papel, mas que, ao ser colocado em produção, não consegue manter uma unidade estética e narrativa no desenvolvimento da obra. É mais um filme que provavelmente cairá nos confins dos streamings, sem o devido destaque.
O filme estreiou dia 19 de junho nos cinemas.
Texto: César F. P. Falkenburg
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