Crítica | Bambi: Uma Aventura na Floresta - Revisitando lugares já inabitáveis
- alice faria

- 27 de ago.
- 3 min de leitura
A curiosidade me levou a acreditar que revistar um lugar já conhecido anteriormente seria como a primeira vez. Mais do que isso, acreditei que seria um lugar ainda melhor.
O longa-metragem Bambi: Uma Aventura na Floresta se compromete à mostrar ao espectador um universo narrativo já conhecido, o que o torna um terreno difícil de ser explorado por dois principais motivos. Por ser uma história já conhecida, o público vai ao cinema na expectativa de revisitar um lugar que abriga uma história inicialmente infantil mas que é repleta de camadas. Além disso, ao recontar uma história, existe a necessidade de novos elementos e novas características que não haviam na obra original.
Dirigido por Michel Fessler, o longa trabalha com animais reais, sem nenhum uso de CGI. Essa era a minha principal curiosidade. Como contar uma história sem diálogos, já que eles não poderiam fazer os animais falarem? Como representariam a perda do amor materno? Não havia tido nenhuma experiência com os filmes desse diretor, então não imaginava o que me aguardava. O longa se inicia com uma narração caricata, como se estivéssemos assistindo um desenho do Discovery Kids. Nesse momento, desejei que ela fosse pontual, mas infelizmente ela se fez presente durante o filme inteiro.

A história é arrastada de tal forma que não conseguimos criar empatia pelo Bambi em momento nenhum, até mesmo quando ele perde a sua mãe pelo caçador. Visito momentos passados em que a perda materna do animal me fez chorar como se eu mesma tivesse perdido minha própria mãe (e o desenho é capaz de sensibilizar desde uma criança até o adulto). Aqui, isso não acontece. Os acontecimentos da vida de Bambi são jogados na linha cronológica da narrativa, as ameaças e desafios surgem e reaparecem repentinamente. Essa fragmentação na história faz com que nós, como espectadores, fiquemos perdidos em um longo documentário do reino animal narrado por uma professora de ensino infantil, contribuindo para a falta de empatia no momento que deveria ser o mais sensível do filme. Na sala de cinema, tentei ignorar a narração por alguns minutos e percebi que a experiência poderia ter sido mais proveitosa sem a cansativa voz que dita até mesmo a respiração dos animais.
Cheguei a me perguntar se o problema não era eu, já que claramente não sou o público alvo do filme. Entretanto, acredito que nenhuma criança, independente da idade, conseguiria assistir cortes aleatórios de um guaxinim bebendo água ou de um javali se sujando na lama por uma hora e meia. No meio de tantos defeitos narrativos, o filme se estende por uma fotografia consistente, com sequências de planos gerais de composição refinada, mas que também são ordinários e triviais. A linguagem visual de Bambi executa uma encenação naturalista dentro das regras técnicas, e não busca inovar na captação do cotidiano dos animais. Por aqui, não existe nenhum diferencial ou inovação.
Admiro, portanto, os realizadores do filme tendo em vista a dificuldade de captar animais reais em seu verdadeiro habitat. A ideia de construir uma narrativa com animais selvagens é desafiadora, e procuro não esquecer desse aspecto ao refletir no filme. Em contrapartida, uma parte de mim entende a tenuidade entre o sentimento de admiração e pena em relação à um filme como esse, levando em consideração as suas complicações.
O que tornou minha experiência com Bambi: Uma Aventura na Floresta tão pejorativa? Na realidade, o único erro que encontro aqui foi a idealização de uma fantasia que, em um momento anterior, havia sido extremamente agradável para mim. Revisitar um lugar e acreditar que ele será o mesmo que já foi algum dia. Nesse sentido, não só a história se modificou como eu também me transformei. Já não sou a espectadora que era quando assisti a animação pela primeira vez, e portanto, me levo a acreditar que o grande responsável por essa desprimorosa experiência cinematográfica tenha sido, na realidade, a minha esperançosa expectativa pelo filme.
Bambi: Uma Aventura na Floresta é distribuído pela A2 filmes em colaboração com a Alpha Filmes.
O filme estreia dia 28 de agosto nos cinemas.
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