Crítica "Do Sul, A Vingança": amadorismo ambicioso
- César Plaggert
- há 5 dias
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O contato de trabalho direto que tenho com produções audiovisuais independentes me leva a simpatizar com projetos nacionais que atingem um circuito de distribuição. E com Do Sul, A Vingança não foi diferente — fiquei curioso ao receber o convite para a cabine, pois o longa se apresenta como a primeira ficção feita inteiramente no Mato Grosso do Sul, sendo um grande marco para o cinema brasileiro. Mas, antes de o filme completar dez minutos, minha animação se transformou em incômodo, devido às diversas instabilidades criativas e técnicas da obra.
Do Sul, A Vingança é um filme ambicioso — uma postura que admiro em produções independentes —, pois busca escapar de um realismo cênico engessado, explorando a ludicidade como forma de driblar a limitação orçamentária. Fabio Flecha pretende trabalhar uma hibridização de gêneros cinematográficos para desenvolver sua narrativa, transitando entre ação, suspense e comédia. Trata-se de uma escolha cada vez mais presente no audiovisual contemporâneo, que privilegia a experiência sensorial em detrimento da rigidez formal de um único gênero. O realizador também utiliza o longa como forma de homenagear a cultura do Mato Grosso do Sul — sua diversidade étnica, fauna, flora, causos e hábitos —, tratando a cidade quase como uma personagem.

Se boas intenções definissem a qualidade de um filme, Do Sul, A Vingança seria uma excelente obra. No entanto, o amadorismo técnico e artístico deteriora o longa, aproximando-o de uma grande esquete de um canal de paródias. O realizador demonstra ter apenas um conhecimento básico da linguagem cinematográfica e comete erros de continuidade e iluminação que são visíveis até mesmo para quem não é envolvido com o audiovisual. Um dos aspectos mais incômodos é a interpretação dos atores e o roteiro: os diálogos e monólogos são escritos de forma literária e irreal, sempre com alguma frase de impacto no final para tentar gerar uma emoção que a estética não consegue transmitir. Essas sequências são interpretadas de maneira engessada, com os atores incapazes de expressar o texto para além da fala, permanecendo estáticos, apenas despejando palavras.
Ao terminar a obra, lembrei-me de quando comecei o técnico em cinema — não por o projeto transparecer uma paixão pela linguagem audiovisual, mas sim por sua produção instável e amadora, aparentando que toda a equipe de Do Sul, A Vingança é composta por pessoas recém-engressadas na indústria, cometendo erros típicos de filmes estudantis e utilizando em excesso de códigos cinematográficos que são ensinados nas primeiras aulas de cinema.

Acho uma pena que a primeira ficção do Mato Grosso do Sul seja uma produção tão fraca. Pode até tentar aparentar ser um filme B, mas é apenas básica e incongruente, estando muito mais próxima de um vídeo de comédia do que de uma obra artística.
Texto: César F. P. Falkenburg
Revisão: Alice Faria
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