Crítica | 'Filhos': o amor tomado pela violência
- César Plaggert
- 1 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de ago.
Prisão: mentes perturbadas comprimidas em blocos de concreto, um espaço que sintetiza a violência da humanidade, onde as leis que regem a sociedade se tornam pequenas demais para contê-la. Em Filhos (Gustav Möller, 2025), acompanhamos uma trama de vingança entre uma guarda, Eva, e um prisioneiro Mikkel, em uma cadeia dinamarquesa.
Filhos segue uma tendência característica do cinema contemporâneo europeu, com visual sóbrio, coloração acinzentada e câmera na mão. Essa abordagem estética teve seu momento de destaque em grandes festivais, mas passou a soar cansativa por manter-se em uma rigidez formal que comprime o filme a um simples realismo dramático. Möller, no entanto, dribla a fragilidade dessa estética com uma decupagem que liga o espaço da prisão à mente de seus personagens.

À medida que o conflito entre os dois cresce, as grades comprimem os personagens nos cantos do enquadramento. Eles são escondidos atrás de portas, diluídos em vidros, criando-se também uma prisão mental. A frieza visual, unida a uma decupagem construída por símbolos, gera um conflito irônico que enriquece a mise-en-scène da obra. O lúdico aparece sutilmente, quase como um mistério que o realizador convida o espectador a descobrir.
Outro elemento interessante em Filhos é como seu título serve de norte dramático ao público. A narrativa é centrada na maternidade, mas em vez de construir essa relação com base no amor, ela se ergue sobre a violência. Quanto mais trocas de farpas, ameaças e agressões, mais se alimenta uma relação entre mãe e filho. Mostra-se que pessoas cercadas pela violência só sabem amar por meio dela.

Apesar das boas ideias, a obra perde ritmo por causa de sua escolha de blocagem. Em muitas cenas, os atores permanecem estáticos no enquadramento, distantes de uma movimentação natural, o que torna a experiência fílmica maçante após a primeira metade.
Filhos é uma obra que surpreende ao repensar sua própria fórmula, encontrando nas frestas de um realismo frio uma narrativa simbólica sobre a maternidade em pessoas disfuncionais, onde o amor se dilui com a violência. Uma fusão amarga mas intrinsecamente humana.
Filhos é distribuido pela Mares Filmes e estreou no dia 31 de julho nos cinemas.
Texto: César F. P. Falkenburg
Revisão: Alice Faria
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