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Crítica | 'Faça Ela Voltar': youtubers brincando de fazer cinema

O gênero do terror se caracteriza por uma gramática cinematográfica complexa, composta por códigos estéticos, acusmáticos e de montagem que convergem para um mesmo objetivo: tensionar os limites do horror e do medo. Ainda que esses recursos sejam úteis como guia para a encenação, deve-se ter cautela para que não se tornem muletas que escondem o amadorismo do realizador. Faça Ela Voltar (Danny e Michael Philippou, 2025) exemplifica esse risco, apresentando-se como uma obra incapaz de sustentar a atenção do espectador sem recorrer a soluções visuais triviais. 

Durante a maturação da obra, refleti sobre cineastas que se orgulham de nunca terem frequentado uma faculdade de cinema, afirmando que todo conhecimento adquirido veio da prática, como se fossem prodígios da sétima arte. A recusa em se aprofundar nos estudos da linguagem cinematográfica leva esses realizadores a serem meros reprodutores técnicos, sem compreenderem a motivação de suas escolhas cênicas.


Frame do filme Faça Ela Voltar
Frame do filme Faça Ela Voltar

Ainda inquieto com esse pensamento, pesquisei sobre a carreira de Danny e Michael Philippou e descobri que são criadores de conteúdo de terror no YouTube, somando quase sete milhões de seguidores. Após assistir a alguns vídeos, ficou evidente suas fragilidades como realizadores, em que dominam a reprodução gráfica da violência, com efeitos práticos e maquiagens verossímeis, mas não compreendem como criar um clima de suspense e horror. No espaço do entretenimento digital, essa limitação não se apresenta como obstáculo; no cinema, torna-se um entrave fundamental.

A mise-en-scène de Faça Ela Voltar é desinteressante, marcada por uma estética limpa e comercial, que pouco explora iluminações e texturas. Existe portanto, uma exceção pontual das sequências em imagem de arquivo e da perspectiva visual da personagem Piper, que é trabalhada com planos de baixa profundidade de campo, criando um contraste entre uma forma polida com a narrativa grotesca. Do mesmo modo, a interpretação do elenco principal é plástica, apoiada em expressões faciais e corporais exageradas, como se os diretores conduzissem seus atores da mesma forma que fazem em seus vídeos no YouTube, como apenas corpos a serem depredados, sem cuidado na transposição dramática do roteiro.


Frame do filme Faça Ela Voltar
Frame do filme Faça Ela Voltar

Na tentativa de mascarar essas fragilidades, recorrem de maneira desenfreada a estímulos visuais consagrados do terror, principalmente do subgênero slasher, como gore e jumpscares. Esses dispositivos ativam no espectador uma reação inconsciente de medo diante de uma possível ameaça, mas não conseguem construir tais reflexos por meios estritamente cinematográficos, caindo em apenas pequenos ápices sensoriais.

Faça Ela Voltar é reflexo do que a A24 se tornou: um espaço seguro para cineastas amadores produzirem cinema comercial sob a aparência de produções independentes. Obras fadadas à primitividade, ainda distantes de atingir unidade cênica, prolongando ideias mal trabalhadas sob a proteção de fórmulas já seguras de filmes anteriores do gênero.


Faça Ela Voltar é distribuido pela Sony Pictures e estreou em 21 de agosto


Texto: César F. P. Falkenburg

Revisão: Alice Faria

 
 
 

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