Crítica | 'Ladrões': a morte de um autor
- César Plaggert
- 28 de ago.
- 2 min de leitura
É revigorante quando um cineasta explora um gênero cinematográfico distinto de sua zona de conforto. É preciso coragem para estudar minuciosamente os elementos formais, repensar a encenação e, sobretudo, enfrentar um público já habituado a sua linguagem. Um caso recente foi o de Celine Song que, após Vidas Passadas (2023), obra que explora o amor pelo intimismo, por pequenos gestos e silêncios, realizou Amores Materialistas (2025), um romance nova-iorquino guiado por extensos diálogos, próximo ao estilo clássico de Nora Ephron e Rob Reiner.
Ainda que Song tenha se transformado como realizadora, manteve seu recorte temático no amor. Já a mudança de Darren Aronofsky em Ladrões (2025) revela-se mais intrigante para análise. Aronofsky se consolidou como um dos nomes mais relevantes da Hollywood contemporânea dentro do drama psicológico, marcado pela construção de atmosferas claustrofóbicas, violentas e melancólicas. Obras como Cisne Negro (2010) e Réquiem para um Sonho (2000) romperam a bolha cinéfila e se tornaram ícones da cultura pop, com iconografias que atravessaram diferentes mídias. Em sua nova produção, porém, ele se insere na comédia policial, uma mudança que desperta interesse inicial até mesmo no espectador menos entusiasta de sua filmografia. Infelizmente, essa curiosidade se dissipa logo na introdução, quando se percebe a motivação que parece sustentar a obra.

Ladrões soa como um filme feito por encomenda, voltado à exportação e pronto para figurar no catálogo de streaming como mero entretenimento casual. Sua mise-en-scène carece de pensamento autoral e se limita a colagens de tendências estéticas em alta no universo pop: fotografia digital que tenta simular a textura do celuloide, figurinos e penteados inspirados na moda old school, além de um elenco marcado pelo status de “sex symbols”. O resultado é uma tentativa forçada de parecer descolado e jovial, mirando o público jovem-adulto habituado às redes sociais, capaz de transformar personagens em “edits” ou memes, gerando divulgação espontânea.
Sua narrativa, assim como a encenação, também se mostra entediante. Os personagens são construídos como arquétipos rígidos, de fácil identificação em seus comportamentos, aspectos sociais e psicológicos, o que elimina a possibilidade de ações dúbias e inesperadas que poderiam tornar a experiência fílmica mais dinâmica. Para atenuar essa previsibilidade, Aronofsky recorre ao humor, inicialmente textual, mas de forma anticlimática,dispersando piadas sem domínio de tom. Com o avanço da trama, o cineasta desloca-se para a comédia corporal, integrando-a a sequências de ação que, por fim, elevam o ritmo até a resolução.

É revigorante ver um cineasta experimentando novos gêneros, mas é lastimável quando essa transformação é feita com preguiça, de execução mimética, produzida para ressuscitar seu nome dentro da indústria, desprezando sua trajetória autoral em troca de um filme esquecível, tão inofensivo que não consegue receber reações além de agridoces.
Ladrões é distribuido pela Sony Pictures e estreou em 28 de agosto
Texto: César F. P. Falkenburg
Revisão: Alice Faria
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