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Crítica "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho": o filme teatro de Bia Lessa

Atualizado: 21 de fev.

Por César F. P. Falkenburg 

A adaptação de livros literários faz parte da história do cinema, das obras desconhecidas e populares, que foram feitas das mais diferentes formas que só a linguagem cinematográfica dá a liberdade de fazer. Em O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, a diretora e roteirista Bia Lessa adapta o conhecido Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa para a sétima arte. O livro já foi transformado em filmes nos diferentes períodos do cinema brasileiro, mas a obra de Lessa se destaca pela sua frontalidade e experimentação da mise-en-scène, elaborando uma experiência sensorial, estética e sentimental de um cerrado banhado por sangue, ganância e principalmente o amor.

Poster do filme "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho" (2024)
Poster do filme "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho" (2024)

O ambiente em que o filme se passa é um espaço infinito preto, fazendo com que os corpos dos atores sejam os motores da trama, que são essenciais na encenação, e que compõem os cenários, se assemelhando com a linguagem teatral. Mesmo com essa semelhança, o câmera não se permanece fixamente distante,  passeia junto com os personagens, fluindo livremente como um integrante do bando de Riobaldo.

Frame do filme "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho" (2024)
Frame do filme "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho" (2024)

A interpretação como um outro elemento de destaque da obra, também se assemelha à linguagem teatral através de monólogos fieis à forma linguística do texto. Tal forma é gritada, sussurrada , e contorcida por Caio Blat que, interpretando Riobaldo, foge da tentativa de tomar textos literários realistas e naturalistas. Essa encenação intensifica o fluxo de consciência do protagonista, levando o público a experienciar a sua sede de vingança e a paixão que sente por seu amigo Diadorim (Luiza Lemmertz), que cresce exponencialmente junto com a sua própria repressão. 

Mesmo que seja de grande interesse a experimentação de Lessa em adaptar Grande Sertão: Vereda, o denso texto de Guimarães Rosa, que é pouco diluído pela imagem cinematográfica, torna a experiência de duas horas cansativa, fazendo com que a imaginação do espectador não consiga preencher as lacunas que a ambientação vazia tem, tornando cenas complexas dramaticamente em brincadeiras de criança. Há uma grande dificuldade de Bia Lessa em transcrever o roteiro visualmente, repetindo os mesmos simbolismos na arte e iluminação constantemente, em que nos primeiros 30 minutos possuem a mágica da descoberta desses elementos e aos poucos perdem seu brilho. 

O Diabo na Rua no Meio do Redemunho mesmo com suas dificuldades, é um filme prazeroso de se ver no cenário contemporâneo brasileiro, visto que é uma obra que experimenta uma linguagem autoral, ultrapassando os limites formais do cinema e do  teatro, como uma fusão de arte em formato longa metragem.


Revisão: Alice Faria

 
 
 

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