Crítica "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho": o filme teatro de Bia Lessa
- César Plaggert
- 24 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de fev.
Por César F. P. Falkenburg
A adaptação de livros literários faz parte da história do cinema, das obras desconhecidas e populares, que foram feitas das mais diferentes formas que só a linguagem cinematográfica dá a liberdade de fazer. Em O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, a diretora e roteirista Bia Lessa adapta o conhecido Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa para a sétima arte. O livro já foi transformado em filmes nos diferentes períodos do cinema brasileiro, mas a obra de Lessa se destaca pela sua frontalidade e experimentação da mise-en-scène, elaborando uma experiência sensorial, estética e sentimental de um cerrado banhado por sangue, ganância e principalmente o amor.

O ambiente em que o filme se passa é um espaço infinito preto, fazendo com que os corpos dos atores sejam os motores da trama, que são essenciais na encenação, e que compõem os cenários, se assemelhando com a linguagem teatral. Mesmo com essa semelhança, o câmera não se permanece fixamente distante, passeia junto com os personagens, fluindo livremente como um integrante do bando de Riobaldo.

A interpretação como um outro elemento de destaque da obra, também se assemelha à linguagem teatral através de monólogos fieis à forma linguística do texto. Tal forma é gritada, sussurrada , e contorcida por Caio Blat que, interpretando Riobaldo, foge da tentativa de tomar textos literários realistas e naturalistas. Essa encenação intensifica o fluxo de consciência do protagonista, levando o público a experienciar a sua sede de vingança e a paixão que sente por seu amigo Diadorim (Luiza Lemmertz), que cresce exponencialmente junto com a sua própria repressão.
Mesmo que seja de grande interesse a experimentação de Lessa em adaptar Grande Sertão: Vereda, o denso texto de Guimarães Rosa, que é pouco diluído pela imagem cinematográfica, torna a experiência de duas horas cansativa, fazendo com que a imaginação do espectador não consiga preencher as lacunas que a ambientação vazia tem, tornando cenas complexas dramaticamente em brincadeiras de criança. Há uma grande dificuldade de Bia Lessa em transcrever o roteiro visualmente, repetindo os mesmos simbolismos na arte e iluminação constantemente, em que nos primeiros 30 minutos possuem a mágica da descoberta desses elementos e aos poucos perdem seu brilho.
O Diabo na Rua no Meio do Redemunho mesmo com suas dificuldades, é um filme prazeroso de se ver no cenário contemporâneo brasileiro, visto que é uma obra que experimenta uma linguagem autoral, ultrapassando os limites formais do cinema e do teatro, como uma fusão de arte em formato longa metragem.
Revisão: Alice Faria
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