Crítica | O exagero conectando o terror e a comédia em "A meia-irmã feia"
- alice faria

- há 6 horas
- 2 min de leitura
Confusão. Essa foi a minha reação ao ouvir de uma experiente diretora de cinema que o terror anda lado à lado com a comédia. Não entendi como e por que gêneros totalmente opostos se completavam e eram tão relevantes um para o outro. Desse modo, segui a minha rotina carregando essa dúvida comigo.
A meia irmã feia (2025) me respondeu à essa questão em 1 hora e 45 minutos de filme. Dirigido por Emilie Blichfeldt, o longa-metragem norueguês traz uma adaptação da história da Cinderela, um dos contos mais conhecidos e relevantes das histórias infantis. Porém, diferentemente da história original, a protagonista Elvira é uma das meia irmãs da Cinderela, e era conhecida pela sua falta de beleza. Todos ao redor da garota viam que absolutamente tudo nela era feio: nariz, boca, queixo, olhos, pés e barriga. Além disso, a garota possuía uma paixão platônica e exagerada pelo príncipe, ela desejava tê-lo a qualquer custo.
Com a morte do pai de Cinderela, a madrasta descobre que o falecido pai não possuía nenhuma riqueza em seu nome, e coloca toda a responsabilidade de se reerguer financeiramente nas filhas. Aproveitando-se da chegada do baile, a madrasta deposita toda sua esperança em Elvira, e inicia um processo de transformação na garota. A partir desse momento, Elvira se submete à procedimentos estéticos amadores e primitivos, e todos eles são extremamente explícitos e grotescos.

O gore é o elemento principal na narrativa, é ele que leva o espectador à angústia e desconforto de Elvira durante os processos de cada procedimento. Cílios costurados com linha de costura e agulha, e marteladas no nariz, e dedos dos pés decepados com facão são apresentados nitidamente, sem medo ou insegurança. Além disso, os planos mais fechados como primeiros planos ou planos detalhe são utilizados excessivamente nesses momentos, contribuindo ainda mais na compreensão das dores de Elvira.
Ao lembrar dessas cenas, é difícil acreditar que A meia irmã feia é um filme com pitadas de comédia. Como um filme desse tipo pode levar o público a dar risada? Nesse contexto, o responsável por esse efeito é o exagero. Esse elemento está presente em quase todos os momentos da narrativa, sobretudo os que envolvem Elvira e os seus desejos, e ao transformar a motivação da protagonista em algo fútil e irreal, tudo torna-se banal e nada é levado a sério, por mais repulsivo que seja. A fotografia também trabalha nesse sentido, trazendo um aspecto mais vibrante e fantasioso através da baixa saturação e superexposição nas cenas que materializam os objetivos da personagem.
Pelo fato de se apresentar como uma adaptação, o filme não muda todos os elementos narrativos. Cinderela ainda se casa com o príncipe ao final, e Elvira sofre as consequências de ter se deixado levar pela sua mãe e pelo padrão imposto socialmente. A meia irmã feia é uma releitura que dialoga com a contemporaneidade de forma extremamente certeira: construindo a comicidade através do exagero, que funciona como conectivo entre o terror e a comédia. Nesse sentido, a produção vai ainda mais longe, colocando não apenas a exaltação dos padrões de beleza em um patamar de tosquice e futilidade, mas também todos os adeptos a essa padronização.
O filme é distribuido pela Mares Filmes e Alpha Filmes.
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