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O LIMITE DE UMA VIAGEM EXISTENCIALISTA

Atualizado: 24 de fev. de 2024


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Limite é um filme de drama, dirigido por Mário Peixoto, e lançado em um circuito fechado em 1931. Com a fotografia de Edgar Brasil, o longa segue três personagens que estão à deriva em um barco prestes a afundar, levando-os à refletirem sobre como viviam e agiam antes de estarem cara a cara com a morte.

Mário Peixoto antes de produzir o longa, fez um intercâmbio para a Europa, e por ser um grande admirador das sete artes e estudioso de humanas, teve contato com as efervescentes vanguardas cinematográficas e com as novas vertentes filosóficas do continente. Ao voltar para o Brasil, decidiu filmar Limite, uma obra com grande rigor técnico e conteúdo complexo, sendo a junção dos estudos do diretor na Europa, de sua imaginação e personalidade

Abordando brevemente a parte técnica do filme, Edgar Brasil e Peixoto elaboraram com grande planejamento todos os planos do filme, chegando até construírem seus próprios equipamentos para executarem o que era exigido pelas cenas. A câmera é uma protagonista do longa, pois aparenta ser um ser vivo, fazendo diversos movimentos que explora os cenários e experimenta angulações nunca vistas, o que gera uma imersão em um espaço psicodélico e de contemplação, além de se relacionar com as correntes filosóficas do pessimismo e absurdismo, mostrando com a flexibilidade da câmera a forma que as personagens pensam e lidam com a vida (uns de forma turbulenta e outra de forma tranquila). Desse modo, sem a fotografia, Limite perderia sua ferramenta de conectar o público com a obra. Mesmo que o filme seja mudo, a trilha musical escolhida a dedo pelo diretor, cria um espaço sonoro fúnebre, frenético e de suspense, aumentando a grandiosidade dos planos e ditando o sentimento da cena.

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Bastidores da gravação do longa

Sobre o conteúdo, como dito anteriormente, Peixoto teve contato com as novas vertentes filosóficas europeias, consequentemente influenciando-o à escrever seu roteiro, baseado nas reflexões e pensamentos do período. Ao assistir o filme é possível identificar com clareza duas vertentes filosóficas, o pessimismo e o absurdismo, os quais são expostos pela forma das personagens lidarem com a morte.

O pessimismo está presente no longa dentro da mulher 2 e o homem 1, em que seus últimos momentos podem ser resumidos na frase do filósofo Arthur Schopenhauer: “A existência é como um pêndulo que vai do sofrimento ao tédio”. As personagens, ao perceberem que irão morrer, vão em uma busca profunda ao seus passados, gerando dor e culpa ao perceberem que viveram vidas tediosas e infelizes. No barco, os dois ficam em estado de choque e tristeza profunda, com uma visão pessimista de seus futuros. 

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Frame da mulher 2 e o homem 1

O absurdismo, mesmo que ainda não tivesse forma em 1931 (Albert Camus foi publicar O Mito de Sísifo apenas em 1942), pode ser encontrado na mulher 1, que em um momento trágico, aceita seu destino e se mantém estável. A personagem diferente dos outros, que sofrem ao buscarem os erros do passado, apenas se lembra do momento em que teve sua liberdade de volta, quando fugiu de uma penitenciária. Ao invés de ficar em um sofrimento circular, ela aceita a morte e decide aproveitar seus últimos momentos, apreciando a vastidão e beleza do mar. A forma com que a mulher 1 lida com seu fim, é o que Albert Camus propõe para se libertar do tédio e angústia, que é a aceitação, Ao perceber que está a frente de um absurdo, basta aceitá-lo e ressignificá-lo para o tornar tolerável. 

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Frame da mulher 1

Conclui-se que Limite é uma obra complexa em seu conteúdo e técnica, que carrega uma discussão existencialista entre a morte e a vida, e mostra as diferentes formas que os humanos lidam com esses temas. Assim, a mensagem do filme não tem nenhum impacto se o espectador não se conectar com a obra, pois é necessário que junto com as personagens, entremos neste espaço de discussão existencialista, e que pensemos se lidaremos com nossas vidas de forma pessimista ou absurdista. Peixoto é um diretor genial, pois por meio de uma experiência imagética e sonora, feita com muito cuidado, nos insere inconsistentes naquele barco à deriva em uma viagem mental.


Revisão: Alice Faria

Texto: César F.P. Falkenburg


 
 
 

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