Crítica | 'Totto-Chan: A menina na Janela': uma visita guiada através da inocência com Totto-Chan
- alice faria

- 17 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de out.
Esse texto contém spoilers.
Totto-Chan: A menina na Janela é um filme que traz incômodo, sentimento que, provavelmente, imagino não ser intencional do diretor. Dirigido por Shinnosuke Yakuwa, a animação usa a figura de Totto-Chan para representar uma fase da infância ocupada por um otimismo exacerbado e pela constância na visão sobre o mundo. Assistir ao filme é revisitar um espaço em que nada é tão sério quanto parece.
Totto-Chan é uma criança hiperativa, que mostra presença em todo e qualquer espaço em que se adentra. A história se desenrola a partir do momento em que a garota é expulsa de sua escola pelo simples motivo de dar trabalho demais aos professores. Ela claramente se destacava naquele local. Sua mãe, com medo de que não houvesse mais nenhum local que aceitasse sua filha, a coloca em uma escola onde aulas acontecem dentro de trens, transporte pelo qual Totto-Chan possui certo fascínio. O espaço acolhe a garota de tal forma que, em poucos dias, ela cria amigos extremamente importantes para o seu desenvolvimento, e conforme o decorrer do longa, percebe-se uma relação mútua entre todos eles.
A personalidade de Totto-Chan se transforma em uma alegria que envolve todos naquela escola. Uma das relações que se destacam é da protagonista com um colega que possui poliomielite, e por conta da doença não tem movimento em uma das pernas e em um dos braços. Os dois se tornam melhores amigos e Totto-Chan apresenta à ele possibilidades de realizar as atividades que ele imaginava não conseguir. Dessa forma, é perceptível a existência de um clichê nessa relação entre os dois personagens, mas que ainda consegue comover o espectador de certa forma.

Mesmo com uma rede de relações interpessoais interessante, a impressão que temos é de que a animação é exclusivamente um recorte aleatório da vida de Totto-Chan, em que não há aprendizados, consequências das suas ações, e a garota consegue sempre o que deseja. Em uma das cenas, a menina implora para os pais comprarem um pintinho de estimação para ela e eles negam o pedido, afirmando que o animal era muito frágil e Totto-Chan não saberia cuidar dele de maneira adequada. Ela faz birra, chora e implora que os pais comprem o animal, e na cena seguinte, a garota aparece brincando o pintinho nos fundos da casa. Momentos como esse quebram o que a narrativa vem construindo desde o início, e perdemos a empatia com a personagem. Isso porque a ideia de ter uma protagonista como Totto-Chan por um curto período de tempo até pode ser interessante, mas acompanhar uma criança como ela por quase 2 horas é cansativo e desgastante. A protagonista deixa de ser excêntrica e passa a ser desagradável em alguns momentos.
Em contrapartida, alguns aspectos da animação agradam ao fugir da narrativa linear apresentada. Essa quebra acontece por meio dos sonhos de Totto-Chan, que são apresentados de forma lúdica e fantasiosa. São esses sonhos que mostram um pouco do que se passa dentro da cabeça da garota e antecedem alguns acontecimentos da trama. A animação do longa, realizada em desenhos 2D, contribui para esses momentos mais pessoais e que mostram o interior de Totto-Chan pois carregam maior sensibilidade e delicadeza nos traços.
“Quando a gente crescer, a gente vai se ver de novo?”, questiona Totto-Chan ao se despedir do amigo em seu funeral. A pergunta é muito bem utilizada nesse momento e quebra a expectativa do espectador ao reafirmar a inocência da protagonista, que ainda não entendeu a morte do amigo. Esse é o primeiro momento em que voltamos a sentir empatia por Totto-Chan, embora aconteça já ao final do longa-metragem. Entendemos novamente que ela é apenas uma criança e que existe algo puro dentro de si. Totto-Chan: A menina na Janela é um filme que fecha um ciclo de forma orgânica e imperceptível, já que inicialmente adoramos a garotinha hiperativa e curiosa, mas depois de um tempo passamos a nos enjoar dela e de seus maneirismos. Ao final, portanto, de forma sutil, percebemos que fomos todos, algum dia, como Totto-Chan.
Totto-Chan: A menina na Janela é distribuído pela Sato Company.
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